quarta-feira, 12 de setembro de 2012

I Feira Mebengokré de Sementes Tradicionais marca calendário Mebengokré

Espaço de troca de sementes na casa do guerreiro


Entre os dias 03 e 07 de setembro ocorreu a I Feira de Sementes Mebengokré, na aldeia Moikarakô, terra indígena Kayapó, no município de São Félix do Xingu.

Participaram da festa mais de 20 aldeias Mebengokré, os parentes Metuktire do Mato Grosso e outras 16 etnias, além de diversas instituições parceiras. O evento teve ainda a cobertura de uma renomada emissora de televisão e em breve será noticiado nacionalmente.


A Feira, organizada pela Associação Floresta Protegida, é uma demanda antiga da comunidade de Moikarakô, que tradicionalmente participa de diversos eventos de intercâmbio cultural pelo país e ansiava por receber parentes e amigos em sua casa.


Mytkatyry, ministrante da Oficina de Artesanato Tradicional 
Na programação de cinco dias houve solenidade de abertura e encerramento, mesas redondas relacionadas às temáticas de segurança alimentar e atividades produtivas, além de oficinas diversas, minicursos e apresentações culturais todas as tarde e noites. O espaço de troca de sementes, previsto diariamente na programação, permitiu a todos os participantes o intercâmbio de produtos diversos, além da comercialização.

A FUNAI foi a principal parceira da Feira, possibilitando o acesso a recursos por meio da Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável, das Coordenações de Etnodesenvolvimento e Gestão Ambiental e ainda do  Museu do Índio.

Além da contrapartida financeira, a Coordenação Regional Kayapó Sul do Pará viabilizou a logística de deslocamento dos participantes e ofereceu oficinas relacionadas à cultura Mebengokré e também à agroecologia, tema importante na temática. Paralelo a isso diversos encaminhamentos e providências foram tomadas a fim de contribuir com a realização e sucesso da Feira.

Oficina de Agroecologia
Além da equipe de servidores da CR Kayapó Sul do Pará, participaram do evento servidores das Coordenações de Altamira, Amapá e Norte do Pará, Araguaia Tocantins, Baixo Tocantins, Centro-leste do Pará, que acompanhavam os indígenas de suas jurisdições. Representando a FUNAI sede nas mesas redondas vieram os servidores Daniel Piza - CGGAM e Tatiana Vilaça - CGMT.

A comunidade de Moikarakô se preparou nos últimos meses para receber a todos, fazendo da Feira um sucesso de organização e acolhimento. A celebração do encontro e reencontro entre os parentes e a interação de todos os participantes sem dúvida foram o diferencial desta que promete ser a primeira de muitas outras Feiras.

No penúltimo dia do evento também foi comemorado o 19º aniversário da aldeia Moikarakô, uma data que se tornou especial para todos os presentes.

Oficina de pintura Mebengokré

A Feira proporcionou uma troca única de experiências, a partilha de saberes e a felicidade de celebrar, elementos que já deixam saudades em todos que estiveram em Moikarakô durante a semana.


Caciques e crianças na comemoração do 19º aniversário da aldeia Moikarakô

terça-feira, 21 de agosto de 2012

I Feira Mebengokré de Sementes Tradicionais

Está chegando!



A I Feira Mebengokré de Sementes Tradicionais acontece do dia 03 a 07 de setembro e reunirá mais de 20 aldeias Mebengokré, além de outras etnias convidadas e diversas instituições.

Maiores informações acessem o blog da Feira


Ou pelo Facebook


Castanha.
Foto: Adriano Jerozolimski - Facebook Feira de Sementes

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

09 de agosto - Dia Internacional dos Povos Indígenas


Hoje, 09 de agosto, é comemorado o Dia Internacional dos Povos Indígenas. A Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a data em 1995, a partir de encontros realizados em sua sede, onde diversos grupos indígenas reivindicavam a garantia de seus direitos.
A partir destas mobilizações foi criada a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, aprovada na 107ª sessão Plenária de 13 de setembro de 2007, que orienta diversas leis e políticas na área indigenista e assegura o direito dos povos indígenas em diversos países.
Muitas instituições e populações indígenas comemoram a data como um marco na luta pela garantia e reconhecimento de seus direitos. Este ano, a data está sendo marcada por uma série de manifestações e atos públicos contra as recentes ameaças à causa indígena, em especial a publicação da Portaria 303, em 16 de julho de 2012, pela Advocacia Geral da União (AGU).

No contexto da FUNAI, inúmeras ações em todo Brasil ocorrerão no dia de hoje, de modo a reforçar o estado de greve dos servidores do órgão e denunciar à sociedade as inúmeras dificuldades do órgão indigenista do país. Como culminância das ações, está prevista a entrega de uma denúncia ao Ministério Público Federal quanto ao precário estado em que se encontra a FUNAI.

O Dia Internacional dos Povos Indígenas surgiu de um movimento de luta destas populações e, enquanto houver ameaças e desafios às comunidades, o dia 09 de agosto sempre será uma data de mobilizações e reivindicações em nome de um futuro melhor para as novas gerações indígenas.


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Servidor da CR Tucumã participa do Curso Dimensões das Culturas Indígenas do Museu do Índio

A CR Tucumã possibilitou a participação de um representante do curso Dimensões das Culturas Indígenas, realizado anualmente pelo Museu do Índio, no Rio de Janeiro.
O curso este ano voltou-se para as temáticas Patrimônio, Arte e Meio Ambiente e contou com uma programação diversificada e com palestrantes renomados dentro do indigenismo brasileiro. 

Jean-Jacques Armand Vidal

Também participaram da programação indígenas de diferentes etnias, que contribuíram com as discussões através da exposição de suas culturas.
O público, em geral, é formado por acadêmicos e profissionais ligados ou interessados na causa indígena. 
Todas as discussões foram enriquecedoras e contribuíram, sem dúvida, para uma reflexão crítica quanto à questão indígena no Brasil.

Mesa redonda com representantes indígenas
Programação:


1º Dia -  Demografia dos Povos Indígenas no Brasil - Marta Azevedo (UNICAMP/FUNAI)
2º Dia –  Cinema Etnográfico e Povos Indígenas – Patrícia Monte-Mor (UERJ) 
3º Dia –  Patrimônio Cultural Indígena – Luís Donisete Grupioni (IEPÉ) 
4º Dia –  História e Cultura Material Nambiquara – Anna Maria Ribeiro Fernandes da Costa (IHGMT/Ikuiapá) 
5º Dia –  Mesa Redonda com Cineastas Indígenas 
6º Dia – Povos Indígenas e Comunidades Quilombolas - Aproximações e Sobreposições Políticas e Etnológicas - José Maurício Arruti (UNICAMP) 
7º Dia –  Cultura Material Karajá: Chang Whan (PRODOCLIN/Museu Do Índio) 
8º Dia –  A Cerâmica do Povo Paiter Suruí de Rondônia: Jean-Jacques Armand Vidal (Artista Plástico) 
9º Dia - Políticas Ambientais e Povos Indígenas: do Brasil Escravista ao Século Xxi – José Augusto Pádua (UFRJ)
10º Dia - Mesa redonda - Povos Indígenas e Patrimônio Cultural

terça-feira, 31 de julho de 2012

Funai Tucumã - PA apreende equipamentos de garimpo ilegal



A equipe do Serviço de Gestão Ambiental e Territorial da Coordenação Regional da Funai em Tucumã (SEGAT/CR/TCA), no Pará, realizou a apreensão de diversos equipamentos utilizados em atividades garimpeiras ilegais, na Terra Indígena Kayapó. O objetivo inicial do grupo apreendido era deslocar-se até a localidade denominada garimpo Santilli, no interior da TI Kayapó.

A ação aconteceu no dia 21 de junho, no rio Fresco, e apreendeu uma balsa carregada com escavadeira hidráulica, trator com carreta, sete motores com bombas de sucção acopladas, 15 mil litros de óleo diesel, barco de alumínio com motor de popa, gêneros alimentícios e materiais diversos utilizados no garimpo ilegal de ouro.

Operação

A equipe do SEGAT/CR/TCA começou uma ação de investigação, durante as primeiras semanas do mês de junho, sobre a logística utilizada na realização da atividade ilegal de garimpo no interior de terras indígenas da região. O grupo monitorou a mobilização, no município de São Félix do Xingu (PA), de garimpeiros que pretendiam invadir a TI Kayapó com o objetivo de desenvolver a atividade clandestina nas proximidades da Aldeia Gorotire.

Na tarde do dia 21 de junho, a equipe foi informada de que a balsa carregando equipamentos havia adentrado a TI Kayapó deslocando-se do rio Xingu em direção ao rio Fresco, que corta o interior da terra. A equipe do SEGAT/CR/TCA realizou um sobrevoo na área a fim de averiguar se a balsa estava realmente no interior da terra indígena, o que foi confirmado. A aeronave pousou na aldeia Kikretum, localizada às margens do rio Fresco, e a equipe se deslocou de voadeira para realizar a abordagem.

A balsa foi abordada nas proximidades da corredeira do Limão, no rio Fresco, sendo constatada a presença de nove não indígenas que confirmaram a intenção de seguir para o garimpo Santilli. Eles pretendiam garimpar por seis meses. Também estavam presentes dois índios da aldeia Gorotire que, segundo os relatos, foram contratados para acompanhar o transporte dos maquinários em troca de mil reais, quantia que, de acordo com eles, seria repartida entre os membros da família.

As pessoas e os materiais apreendidos foram conduzidos até a cidade de São Félix do Xingu (PA) e apresentados a um delegado da Polícia Federal, que realizou as oitivas dos que estavam na balsa, inclusive os indígenas, para a abertura de inquérito policial. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Saneamento (Semas) de São Félix do Xingu realizou o termo de apreensão de todos os equipamentos, maquinários e combustível, que ficaram sob a responsabilidade da Prefeitura Municipal. Como se trata de crime ambiental, a equipe do SEGAT/CR/TCA solicitou ao delegado que preside o inquérito, o perdimento de todos os bens apreendidos em favor da Prefeitura de São Felix do Xingu.

Ações integradas

Para que ações de fiscalização em terras indígenas e em áreas do entorno sejam efetivas é necessário o estabelecimento de parcerias locais. Desta forma, a Coordenação Regional da Funai em Tucumã tem buscado ampliar as relações com parceiros, colaboradores e protetores do meio ambiente, visando proteger as terras indígenas.

Além da fiscalização realizada no interior das terras, entende-se que o entorno delas devem ser consideradas como áreas de amortecimento e tratadas de maneira diferenciada, já que estes são os locais onde geralmente ocorre todo o suporte logístico das atividades ilegais e onde as informações de ilícitos são coletadas.

Nesse sentido, a Coordenação Regional de Tucumã, através do SEGAT, tem investido em acordos de cooperação institucional visando a integração dos esforços de fiscalização. As ações contam assim com a parceria de órgãos federais como Ibama e Polícia Federal, serviços de fiscalização estadual como Policia Militar e Batalhão Ambiental e também municipal através das secretarias de Meio Ambiente.

O objetivo é não apenas fiscalizar e monitorar ilícitos, mas também incentivar novas estratégias de prevenção dos mesmos através de ações de conscientização, além da realização de projetos de recuperação de áreas degradadas e apoio à realização de atividades produtivas. Espera-se, como resultado final, atingir uma gestão integrada do território indígena, procurando contribuir com a execução da PNGATI (Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial Indígena) nos municípios onde se encontram as terras indígenas sob jurisdição da CR de Tucumã.

Extraído do site http://www.funai.gov.br/

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Funai e IBAMA desativam serrarias e garimpos na Ti Kayapó


A Fundação Nacional do Índio (Funai) iniciou, no último dia 14, a Operação Floresta Livre, em conjunto com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O objetivo é combater o funcionamento ilegal de serrarias e garimpos na Terra Indígena Kayapó, entre os municípios de Tucumã e Cumaru do Norte, no sudeste do Pará.  A operação é uma continuidade de ações deflagradas em 2010 e 2011, que identificaram o funcionamento de seis serrarias clandestinas mantidas com madeira oriunda da TI Kayapó e originaram as operações Ocara e Bateia.
Com o apoio da polícia militar do Pará, a Operação Floresta Livre identificou quatro serrarias ativas no município de Cumaru. Uma delas é legalizada e está em condições regulares de funcionamento, outra está em vias de legalização, mas foi embargada pelo IBAMA por estar atuando antes de obter licença e duas são clandestinas e foram desativadas. 
As serrarias tiveram seus maquinários apreendidos pelo IBAMA, ficando estes à disposição da justiça como peças para abertura de inquérito pela Polícia Federal. Também foram apreendidos cinco caminhões de madeira, totalizando cerca de 80m³. A carga será destinada à prefeitura de São Felix do Xingu/ PA para a construção e reforma de escolas no interior da Terra Indígena Kayapó.
A primeira investida contra a exploração de madeira na TI Kayapó ocorreu em novembro de 2010, durante a operação Ocara. A operação desmontou e embargou cinco serrarias em Cumaru do Norte e duas em Bannach. Em maio de 2011, no entanto, foi constatado que três delas haviam voltado a operar ilegalmente e uma nova serraria havia se instalado recentemente no entorno da área protegida. 
A estratégia é manter uma ação continuada nessas localidades a fim de desarticular o desmatamento ilegal, que acaba funcionando como porta de entrada de madeireiros e vem causando estragos ao patrimônio florestal dos Kayapó.
Garimpo na TI Kayapó
Outra investida da operação foi contra um garimpo, na mesma terra indígena. A Operação verificou grande quantidade de baixões nas imediações da cidade de Cumaru do Norte e desativou 19 motores de garimpo que causaram grande degradação ambiental. Em um ponto específico da TI Kayapó, foram detectadas, por meio de sobrevôo de helicóptero, cerca de 50 pares de máquinas de garimpo, 12 balsas de grande porte e 250 pessoas na atividade ilegal.
No garimpo Santilli, localizado no interior da TI Kayapó, existe, segundo os garimpeiros que saíram da área, um grupo armado composto por 12 pistoleiros, que estariam fazendo a segurança do garimpo e das balsas existentes na localidade. 
À ação dos garimpeiros estão associados a casos de malária, provenientes da região do garimpo, além de doenças como esclerose, demência e dificuldades de orientação na população idosa das aldeias da região, devido danos causados ao sistema nervoso por contaminação com mercúrio. Na população mais jovem já foram detectados casos de difteria em razão consumo de água contaminada pela atividade de garimpo.
Existem inquéritos na Polícia Federal do município de Redenção/PA apurando esses casos na TI Kayapó e entorno. Há, ainda, um processo investigativo em curso, que tem o objetivo de investigar os responsáveis pela cadeia econômica dessas atividades ilegais e que pretende juntar elementos para um processo criminal. A Operação Floresta Livre não tem data para encerrar.



Extraído do site http://www.funai.gov.br/

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Professores Mebengokré/Kayapó encerram mais uma etapa do curso de formação em magistério indígena


Apresentação de trabalhos.
Foto: acervo do curso de formação
No último dia 30 de maio os professores indígenas Mebengokré/Kayapó encerraram com louvor mais uma etapa de seu curso de formação em magistério indígena, que congrega também o ensino médio.
O município de São Félix do Xingu vem sediando as últimas etapas e recebeu durante duas semanas aproximadamente 36 professores indígenas de 17 aldeias. O curso, que iniciou ao final de 2008, tem perspectiva de conclusão em 2014. Apesar do atraso em seu andamento, o panorama ao término é promissor, com a continuidade no ensino superior através das licenciaturas interculturais.




No encerramento, estiveram presentes a coordenadora da SEDUC - PA  Jacilene,  responsável pelo módulo, a secretária de educação de São Félix do Xingu, Viviane Cunha, representantes do Conselho Estadual de Educação, da Prefeitura de São Félix do Xingu,  o Padre Raimundo Camacho, do Conselho Indígena Missionário e ainda a FUNAI, através do chefe de divisão paulo Roberto, do chefe da CTL de São Félix do Xingu,  Clésio, e da servidora responsável pelo setor de educação da CR, Maria Alice Xavier.                

                             
Secretária de Educação de São Félix do Xingu na cerimônia de encerramento


O Conselho Estadual de Educação esteve presente principalmente para vistoriar o andamento das atividades, uma vez que esta é uma prerrogativa fundamental para regulamentar o curso na modalidade de escola itinerante.

 Na fala de todos esteve presente o reconhecimento pelo esforço e determinação dos professores indígenas, bem como a importância do curso no avanço dentro da educação indígena, que só irá alcançar qualidade plena  à medida que as comunidades também tiverem autonomia para pensar e fazer sua educação, e os professores indígenas são peças fundamentais nesse processo.


Trabalhos produzidos pelos alunos
Foto: acervo do curso de formação


A próxima etapa do curso já está agendada para iniciar em 10 de julho, também no município de São Félix do Xingu.
Os professores indígenas comemoraram o encerramento com muita dança e no dia seguinte retornaram às suas aldeias para continuarem o aprendizado, desta vez nas salas de aula em que trabalham.


Danças em comemoração ao encerramento
Danças para comemorar o encerramento do módulo

terça-feira, 24 de abril de 2012

19 de abril: uma data de muitas comemorações

O Dia do Índio, comemorado em todo o Brasil no dia 19 de abril, sem dúvida é uma data simbólica e muito comemorada por todas as etnias do país.

Seja como um dia importante para refletir sobre os desafios do indigenismo , ou ainda para valorizar e fortalecer as culturas indígenas, o certo é que o dia do índio é um dia de dança, comemoração e festa em todas as aldeias simplesmente por ser o seu dia.

Para os Mebengokré∕Kayapó este sem dúvida é um dia de festa e este ano foram muitas as comemorações.



Mulheres da aldeia Turedjam disputam partida de futebol com alunas da rede municipal de ensino


Em São Félix do Xingu, a secretaria municipal de educação realizou a Semana dos Povos  Indígenas, com atividades culturais e esportivas entre os dias 17 e 19. A estimativa é de que havia mais de 2.000 índios na cidade, representantes de todas as nove aldeias do município, além de outras convidadas.

A aldeia Turedjam também realizou festa em comemoração ao dia do índio e também em comemoração ao aniversário da aldeia. Foram convidadas outras sete comunidades. Com muita dança, banho de rio e atividades esportivas, todos se divertiram entre os dias 19 e 22, além de receberem diversos convidados, como o  prefeito e secretários do município de Ourilândia do Norte,  alunos de escolas municipais, além de outras autoridades  e instituições da região.

A Vale S.A realizou também o intercâmbio cultural entre Kayapós e Xikrins. O dia 21  foi marcado por atividades esportivas entre as etnias e também  entre os funcionários da empresa, além de entretenimento para crianças e um saboroso almoço de confraternização.



Almoço servido no intercâmbio cultural entre Kayapós e Xikrins


Paralelo a esses eventos,  todas as aldeias comemoram com muita festa seu dia tão especial. Com apoio das prefeituras, vizinhos ou simplesmente por conta ´própria, 19 de abril sempre será um dia de muita dança, berarubu e orgulho por serem  indígenas.





Índios Kayapó dançando na premiação esportiva do intercâmbio cultural


terça-feira, 17 de abril de 2012

Aldeia Turedjam recebe visita de alunos do ensino médio

No dia 17 de abril os alunos de quatro turmas da escola Pitágoras, de Ourilândia do Norte, visitaram a aldeia Turedjam a fim de conhecer e vivenciar a cultura Mebengokré∕Kayapó.
Acompanhados pelos professores de Artes, Biologia, Literatura e Sociologia, os discentes entrevistaram os moradores da aldeia a fim de aprender sobre suas especificidades socioculturais, especialmente quanto aos hábitos e valores da etnia. Também houve uma caminhada pela mata para que os alunos pudessem identificar as características da floresta amazônica, de modo a relacionar os conhecimentos adquiridos em sala de aula com a realidade da mata.


Além das atividades acadêmicas, os visitantes foram recepcionados cerimonialmente pelos habitantes e crianças da aldeia, interagiram com os jovens jogando futebol e vôlei e ainda dançaram junto com a comunidade.

Esta é a segunda visita de alunos à aldeia e, assim como a primeira atividade, ocorrida no mês de novembro do ano anterior, sem dúvida a esperiência foi única e especial, principalmente para os alunos e professores, que tiveram o privilégio de aprender e compreender mais a cultura Mebengokré∕kayapó.

 Para a comunidade também é um momento de muita alegria, pois todos se sentem valorizados e prestigiados, além da oportunidade de partilharem sua cultura e modo de ser.
A CR Tucumã faz questão de intermediar tais oportunidades, uma vez que acredita que é a partir do acesso ao conhecimento e à vivência que preconceitos e impressões errôneas podem ser dirimidas, especialmente no contexto da região, onde a população muitas vezes apresenta resistência à cultura indígena.

 Como resultado dos saberes apreendidos, os alunos realizarão exposição de trabalhos artísticos inspirados na cultura indígena, além de realizarem seminários para partilha das informações, de modo que um universo muito mais amplo de pessoas conhecerão e se encantarão com a aldeia Turedjam e a etnia Mebengokré∕Kayapó.
 
 Qualquer instituição de ensino pode propor uma atividade similar. É preciso contatar a CR Tucumã para que esta analise o projeto a ser realizado, bem como possam consultar as comunidades a serem visitadas, visto que sua anuência é primordial para qualquer realização.



terça-feira, 27 de março de 2012

I Conferência Estadual de Assistência Técnica e Extensão do Estado do Pará


A CR Tucumã participou na última semana da I Conferência Estadual de ATER do Estado do Pará, que ocorreu nos dias 13 e 14 de março, no hotel Gold Mar, na cidade de Belém. Representando a CR Tucumã estiveram presentes os servidores Ramon de Paula Neves, delegado escolhido na conferência territorial, e Luciano Leal Almeida, convidado, bem como o indígena Bep-Irax Kaiapó, escolhido também como delegado da sociedade civil na conferência territorial. Também participaram do evento servidores da FUNAI de outras CTL’s da região, como Rainericy da Silva Quintino (CTL de Jacareacanga), Julia Duarte (CTL de Tomé Açu) e Ananda Jesus (CTL de Paragominas).
A Conferência, de tema: “ATER para a agricultura Familiar e Reforma Agrária e o Desenvolvimento Sustentável do Brasil Rural”, contou com a participação de delegados eleitos e convidados da sociedade civil, governos municipais, estadual e federal, representantes dos 11 Territórios e Pré-Territórios da Cidadania (Baixo Amazonas, Baixo Tocantins, Nordeste Paraense, Sudeste Paraense, Sul do Pará/Alto Xingu, Transamazônica, BR – 163, Marajó, Entorno de Tucuruí, Salgado e Metropolitana), que realizaram anteriormente suas respectivas conferências territoriais.
A Conferência se iniciou na manhã do dia 13/03 com uma mesa de abertura composta de diferentes segmentos sociais e governamentais que resaltaram a importância do evento para o futuro da ATER no Estado e no país, bem como a importância da eleição de delegados que defendam as especificidades (alto custo para ações de ATER devido às grandes distâncias e as dificuldades de transporte deslocamento) e a diversidade de categorias sociais do campo (agricultores familiares, assentados, indígenas, ribeirinhos, pescadores e pescadoras artesanais, extrativistas, entre outros) existentes no Pará durante conferência nacional de ATER, que irá se realizar nos dias 23 a 26 de abril em Brasília. Após a mesa inicial ocorreu a conferência de abertura proferida por Reginaldo Lima – Diretor do DATER/SAF/MDA, onde foi enfatizado a criação da Lei 12.188/2010 e a realização da I Conferência Nacional como expressão da consolidação da Política Nacional de ATER (PNATER), e também a importância de se discutir nessa conferência estadual um modelo de ATER que atenda às especificidades do meio rural paraense.
Em seguida, iniciaram-se os Grupos de Trabalho (GT) que foram divididos em cinco eixos temáticos: “ATER para o Desenvolvimento Rural sustentável”; “ATER para a Diversidade da Agricultura Familiar e a Redução das Desigualdades”; “Ater para as Políticas Públicas”; “Gestão, Financiamento, Demanda e Oferta dos Serviços de ATER” e “Metodologia de Ater – Abordagem de Extensão Rural”.
Na Plenária Final, que ocorreu na tarde do dia 15/03, foram eleitos 27 delegados para a Conferência Nacional, sendo 18 da sociedade civil (representação de agricultores (as) familiares, assentados (as) da reforma agrária e representações das entidades não governamentais executoras de serviços de Ater) e 09 de representantes governamentais de serviços de ATER e de órgãos públicos dos poderes executivo, legislativo e judiciário das esferas estadual e municipal. No contexto da sociedade civil o indígena Kayapó Rafael Maniary Munducuru, da aldeia Karapanatuba, município de Novo Progresso, foi eleito como delegado e o indígena Bep-Irax Kaiapó, da aldeia Turedjan, município de Ourilândia do Norte, como suplente. No momento também foram discutidas e aprovadas as propostas elencadas pelos cinco GT’s.
Por fim, foi debatida a minuta de projeto que institui a Política Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural (PEATER), o Programa de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar (PROGATER) e cria o Fundo Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural (FEATER), que se pautou em diversos aspectos da política de Ater já explorada dentro dos GTs e com enfoque na questão estadual.
Mais uma vez foram pautas questões relativas ao desenvolvimento rural sustentável, o etnodesenvolvimento e à agroecologia, bem como uma maior atenção das ações de Ater para os povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e outras populações e comunidades tradicionais do campo. Foi discutido também que para a comprovação da qualidade de beneficiário da PEATER, deverá ser apresentada a Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – DAP, porém, como os indígenas estão tendo dificuldades na aquisição desse documento, foi aceito como documento equivalente o Registro de Nascimento Indígena – RANI. É necessário ressaltar que esse projeto de lei ainda passará pela avaliação da Assembleia Legislativa Estadual para entrar em vigor.
O evento foi muito produtivo para todos os participantes, em especial para esta CR, que conseguiu eleger seu representante indígena como suplente para a Conferência Nacional. Sem dúvida as discussões e informações resultantes da Conferência Estadual contribuirão significativamente para o desenvolvimento das atividades de etnodesenvolvimento da CR Tucumã.

Equipe da CR Tucumã e servidores das CTL's na Conferência

terça-feira, 13 de março de 2012

CTL Novo Progresso é contemplada nas ações da CR


A Coordenação Regional de Tucumã continua em pleno processo de crescimento e reestruturação, especialmente quanto às suas novas áreas de abrangência.

A partir da solicitação dos Kayapó das terras indígenas de Mekragnoti e Baú do lado oeste do estado do Pará, a CR Tucumã passou também a realizar o atendimento às comunidades de Baú, Kubenkokre, Pukany, Kawatun e Pyngraiti, agregando a CTL de Novo Progresso, conforme a Portaria nº 1182/PRES, de 08 de agosto de 2011.



Este sem dúvida foi um marco para a FUNAI e também para as comunidades. A partir de então a CR Tucumã responde pelo atendimento das terras indígenas Badjunkore, Baú, Kayapó, Mekrangoti e também por uma das comunidades da T.I Las Casas, que recebe este mesmo nome (este último processo ainda está em trâmite).

Foi uma mudança determinante para a administração da CR Tucumã que, mesmo com uma quantidade de comunidades e T.I’s já significativas, assumiu o desafio de atender também às comunidades do oeste.

Em 2011 o Coordenador Odenildo esteve em Novo Progresso para conhecer a nova CTL e seus servidores, bem como para dialogar sobre a realidade das comunidades.
Em 2012 novas ações já ocorrem. No período de 26/02 a 05/03 uma equipe de servidores da CR, bem como o próprio Coordenador Regional, estiveram em Novo Progresso a fim de realizar pregões presenciais para aquisição de itens essenciais às comunidades.


Pregão presencial realizado na sede da CTL  


Além disso houve a visita de um servidor do setor de Promoção Social para coletar informações e orientar quanto às demandas da CTL, além de tantos outros temas importantes que foram discutidos na oportunidade, como educação, proteção territorial, finanças e licitações, etc.
O Coordenador Regional aproveitou a oportunidade também para visitar o castanhal da T.I. Mekragnoti, acompanhando o cotidiano das famílias nessa importante atividade que é a coleta da castanha, bem como para averiguar os trabalhos de abertura do ramal de acesso as aldeias Kubenkokre e Pukany, previsto no PBA BR 163, com a execução por conta do DNIT.



Visita do presidente Márcio Meira à CTL em 2011 


No retorno da equipe, o Coordenador Técnico Local, senhor Edson Carlos Ramalho, se deslocou até Tucumã, onde permanecerá durante toda esta semana, para conhecer a estrutura da CR de perto, seus setores e servidores, no sentido de aproximar as coordenações e estabelecer uma relação mais estreita com a Coordenação Regional, bem como encaminhar questões pertinentes à CTL e ajudar na preparação de editais de licitação para atender as demandas da Coordenação Regional e Técnica Local.


Guerreiros Mekragnoti em comemoração à visita do Presidente Meira


A CTL de Novo Progresso realiza o atendimento às comunidades das aldeias acima citadas com muita competência e dedicação e, sem dúvida, este será um ano de grandes avanços e parcerias com a CR no sentido de garantir a continuidade das ações com o trabalho de qualidade que já executam.


A equipe da CTL é composta pelos servidores Edson Carlos Ramalho, Luis Carlos da Silva Sampaio, Doto Tajaj-ire, Imar Kayapó e pelos colaboradores terceirizados Anderson Pereira, Josiane Batista dos Reis e Luzinete Alves dos Santos.

quinta-feira, 8 de março de 2012

 08 de março

“Na fogueira daquela fábrica onde ardem as meninas.
Nas fogueiras destas fábricas onde ardem, ainda, as herdeiras desta sina.

Na fogueira onde queimaram nossos sonhos, tuas cinzas.
Nas fogueiras queimam ainda, como antes bruxarias.

Na fogueira preconceitos invisíveis queimam ainda.
Nas fogueiras as meninas pernas nuas pelas ruas.

No fogo em teu rosto feito brasa e hematoma.
Na fogueira do teu sexo que vestes quando nua.

Das fogueiras onde queima tanta fúria assassina.
Deste fogo, prometemos, libertaremos os teus sonhos nossas filhas.
Este fogo não se esquece: nos aquece, anima.”



 
Às guerreiras Mebengokré e a todas as guerreiras da FUNAI, desejamos que o fogo da luta para uma nação mais igualitária, mais pacífica e mais humana nunca se apague!
Que possamos, a exemplo das mulheres da mata, nunca desanimar ao trabalho e sempre com encanto nos olhos de quem descobre um novo amanhecer, continuar com a leveza e alegria de sermos mulheres!!!


Feliz Dia das Mulheres!!!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012


Agricultura Kayapó/Mebengokré
Experiência na Terra Indígena Badjônkôre – Aldeia Kranh-ãmpare
Ramon de Paula Neves – Indigenista Especializado

1 – Introdução
A idéia deste texto é descrever  e apresentar os elementos que caracterizam o modo de produção agrícola Kayapó/Mebengokré, como a cultura e a produção agrícola influenciam no dia a dia dos diversos sujeitos das comunidades, ademais de apresentar as experiências produtivas da aldeia Kranh-ãmpare na TI Badjônkôre.
Os Kayapó vivem em aldeias dispersas ao longo do curso dos afluentes do caudaloso rio Xingu, desenhando no Brasil Central um território do tamanho da Austria recoberto pela florestal equatorial, com exceção de algumas porções preenchidas por áreas de cerrado. O termo Kayapó foi usado por grupos vizinhos para denominá-los e significa “aqueles que se assemelham aos macacos”. Mesmo sabendo que são assim chamados pelos outros, os Kayapó se referem a si próprios como Mebengokré, “os homens do buraco/ lugar d’água” (POSEY, 1979).
Os povos indígenas da etnia Kayapó possuem um histórico impressionante de proteção de suas terras tradicionais contra a invasão e o desmatamento. Eles detêm um território que se estende por quase 11 milhões de hectares no sudeste da Amazônia e constituem o maior trecho contínuo de floresta tropical protegida do mundo. Hoje as terras indígenas são, praticamente, a única barreira contra a onda de desmatamento e incêndios que devastam o sudeste da Amazônia, onde a floresta dá lugar à agricultura. Este efeito barreira ocorre porque os povos indígenas, que dependem da floresta para sobrevivência, lutam ativamente pelos direitos sobre suas terras e expansão de fronteiras. Os territórios dos índios Kayapó nos estados do Pará e Mato Grosso são um exemplo impressionante da barreira contra o desmatamento e representam uma oportunidade extraordinária para a conservação numa ampla escala de paisagem. Tendo conseguido a demarcação da maior parte de suas terras, os Kayapó do século 21 têm que defender 2 mil km de divisa contra a usurpação e a invasão por fazendeiros, madeireiros, exploradores de ouro e posseiros.
A TI Badjônkôre  surgiu da não contemplação de um subgrupo quando da demarcação da TI Kayapó, mais especificamente, daquelas provenientes do grupo Kubenkrankêng, para regularização das porções de terras tradicionalmente por eles ocupadas e que estava fora dos limites da TI Kayapó.
Ocorre que os índios da referida terra indígena jamais aceitaram, com tranqüilidade e satisfação, os limites definidos, alegando não terem participado efetivamente do procedimento de demarcação acima referido, realizada em 1985, pelo convênio entre a FUNAI e a Divisão de Serviços Gerais do Exército Brasileiro, época que tiveram início os conflitos fundiários entre os índios e os segmentos regionais. Com isso nos fins dos anos 90 a TI Badjônkôre foi demarcada com mais de 200mil hectares entre os municípios de São Felix do Xingu e Cumaru do Norte.

2 – Elementos culturais
2.1 - Cosmologia
Há um mundo celeste do qual provém a humanidade. Os primeiros seres humanos que chegaram à Terra vieram de lá por uma longa corda, como formigas por um tronco. Isto foi possível porque um homem viu um tatu e o seguiu até que entrou num buraco, que depois foi usado pelas pessoas para vir a este mundo. Também as plantas celestes baixaram do mundo celestial quando a filha da chuva brigou com a mãe, desceu a este mundo e foi acolhida por um homem, a quem entregou as plantas.
Muitos relatos explicam os fatos culturais, desde a obtenção do fogo até a casa da onça-pintada. As danças são levadas muito a sério, pois explicam a relação com a natureza, a sociedade e a história. Não usam bebidas fermentadas nem plantas alucinógenas.

2.2 – Agricultura Kayapó
Sua principal atividade econômica é a agricultura itinerante praticada por homens, mulheres e meninos. Através do método de desbravar e queimar (queimada), cada par limpa um local na floresta de cerca de cinquenta por trinta metros onde estabelecem seu puru, uma horta na qual semeiam batata, cará, mandioca, algodão, milho e, ao lado das árvores, plantam cupá, uma videira com gavinhas comestíveis. Alguns grupos introduziram em suas hortas arroz, feijão, mamão e tabaco.
Recolhem mel e frutos de palmeiras silvestres como o babaçu. A castanha-do-pará, que anteriormente era recolhida pelas mulheres para seu autoconsumo, hoje é recolhida pelos homens e vendida a compradores estatais ou privados.
São bons caçadores, mas, atualmente, a caça não é abundante. Os homens tecem cestos, cintos e faixas para carregar e fabricam paus, lanças, arcos e flechas para a caça. As mulheres fabricam pulseiras, fitas e cordas
São especialmente as mulheres que produzem a quantidade necessária de alimentos calóricos. As roças, cultivadas em um raio médio de quatro a seis quilômetros da aldeia, são geridas por elas.
Os Kayapó são exigentes na escolha de terras potencialmente férteis: o lugar ideal é uma porção de floresta com uma vegetação não muito densa, não longe de um rio e situada no pé de colinas. Os Kayapó fazem uma distinção entre diferentes tipos de terrenos e de florestas. A escolha de um lugar conveniente para o estabelecimento de uma nova aldeia ou de uma nova roça não se faz de modo precipitado. Especialistas examinam cuidadosamente a terra, sua cor e sua composição. A vegetação existente é igualmente tomada em consideração.
Os homens têm a dura tarefa de cortar as árvores para a abertura das roças. As árvores são derrubadas no início da estação seca (maio) e permanecem lá alguns meses, até a proximidade da estação chuvosa. A natureza do solo constitui um grande problema na floresta equatorial, pois este é extremamente pobre em minerais. É por isso que perto do mês de outubro, os Kayapó queimam as árvores, cuja madeira teve tempo o suficiente para secar. Os minerais nelas concentrados permanecem nas cinzas, formando uma camada, que se presta de adubo. Depois da queima, as mulheres dão início à semeadura. Muitas variedades de plantas são semeadas em círculos concêntricos. Essa cultura mista apresenta um certo número de vantagens; por exemplo, as plantas de folhas grandes protegem o solo de chuvas torrenciais e do ressecamento, assim como outras plantas altas protegem do sol causticante. Algumas plantações estão igualmente relacionadas com o combate contra os insetos. Na periferia da roça, são comumente semeadas plantas medicinais. Muitas dessas plantas produzem um néctar que atrai uma certa espécie de formigas agressivas, inimigas naturais de insetos fitofágicos. Por mais que pareça desordenada, a roça kayapó está organizada segundo uma lógica extremamente estruturada.
As mulheres vão todos os dias às roças para recolher legumes. A vida de uma mulher kayapó é um tanto monótona. Mas algumas vezes por ano, geralmente durante a estação seca, pequenos grupos de mulheres vão à floresta para juntar frutas selvagens e óleo de palmeira. As excursões mais curtas duram dois dias, as mais longas, uma semana. As mulheres nunca se separam de fato da aldeia, permanecendo em um raio de cerca de 30 km ao redor dali, território com o qual são mais familiarizadas e que é constantemente atravessado por caçadores.
O antropólogo Darrel Posey, estudando os Kayapó, mostrou a preocupação desse povo com a preservação da natureza, utilizando, para isso, não só um planejamento rigoroso nas suas práticas agrícolas, como também técnicas naturais altamente desenvolvidas, se comparadas à dependência da sociedade envolvente aos defensivos químicos.
Os Kayapó, por exemplo, acreditam que existe um equilíbrio entre os espíritos dos animais, dos homens e das plantas. Se os homens abusarem dos recursos da floresta, a harmonia será destruída e chegarão doenças para toda a tribo. Para eles, nenhum aspecto da vida tribal é mais importante que o equilíbrio ecológico. [...]as roças possuem sempre cobertura vegetal, o que impede a erosão do solo e a insolação excessiva. Dentro das roças é grande a variedade de plantas e sua distribuição evita o aparecimento de insetos e outras pragas. Outros conhecimento nativo sobre a agricultura é que o plantio se faz de maneira a aproveitar ao máximo o solo, de acordo com as plantas e as condições do terreno. Assim cada planta pode aproveitar melhor as propriedades que lhe servem. As faixas de florestas conservadas entre as roças servem ao mesmo tempo de "corredores naturais" prestando-se ao uso como refúgio por plantas e animais, facilitando a reconstituição da fauna e da flora. Isto denota planejamento e permite a conservação das reservas, proporcionando que haja produção com aproveitamento máximo dos recursos e sem dano ao meio. (Posey, 1984, p.45).



2.3 - Calendario ecológico
Os Kayapó iniciam o seu ano no ngô ngrà (vazante) com atividades agrícolas que se estendem por quase todo o calendário ecológico até a maturação do milho. Segue-se o período da colheita e, com a queda dos frutos silvestres, os animais são atraídos, propiciando a época de caça que coincide com o ngô TAM (cheia). Em seguida, há um pequeno período de maior atividade de lazer e conveniência familiar, ao fim do qual, com a queda do nível das águas do rio (vazante), intensifica-se a atividade de pesca. E, com a vazante, inicia-se um novo ano. (TURNER, 1991)
O início do ano é marcado pelo cerimonial bemp, que se estende durante quatro luas: do surgimento do bemp nhõ djà - largas faixas coloridas que partem o sol poente, até a ocorrência das primeiras chuvas. Ao final do cerimonial bemp, pode-se ver no meio do céu, antes do sol nascer, o ngrôt kryre, ou punhado de cinzas, formado pelo aglomerado de sete estrelas, as Plêiades, situadas na constelação de Touro.
Diferentes épocas do ano são acompanhadas da realização de metõro, cerimoniais de caráter sazonal e de grande importância na vivência e na identidade social do grupo. A divisão das tarefas segue o critério sexual, sem fugir à regra das demais comunidades Kayapó, cabendo à mulher carregar os fardos, a lenha e transportar os alimentos cultivados nos roçados para as casas.

3 – Descrição da Experiência da Aldeia Kranh-ãmpare

A aldeia Kranh-ãmpare desenvolve, principalmente, o cultivo do milho e das diversas espécies de batatas, além de lavouras de mandioca, banana, urucu, abóbora, melancia, cará, arroz e algodão, plantadas em grupos e dispostas bem ordenadas por quase dois quilômetros às margens de um pequeno curso d'água.
As práticas agrícolas são rudimentares, atividades que incluem trabalhos simples destituídos de técnica aparente. Os estudos desenvolvidos ultimamente nesse sentido têm demonstrado o contrário. Além da derrubada da vegetação, queimada e consequentemente o plantio, inúmeros outros cuidados são observados na agricultura indígena.
São inúmeros os exemplos de conhecimento ecológico das culturas indígenas que se pode apontar, uma vez que cada grupo indígena possui seus costumes, que de um modo ou de outro funcionam para preservar os recursos naturais.
O Benjadjwyr (Chefe, cacique) Pangrá apresentou as áreas de agriculturas próximas a aldeia. Ele estima a existência de cerca de 10 alqueires de área plantada por todas as famílias (25 famílias).
Dentre as principais dificuldades no manejo da agricultura, Pangrá coloca que os idosos tem muita dificuldade de realizar sua tarefa , uma vez que o trabalho é penoso e algumas roças distantes.
Com o contato, os indígenas aprenderam e passaram a depender de ferramentas para a agricultura, as principais utilizadas na comunidade são: facão, machado, moto-serra, enxada, cavadeiras, etc.
Visando diminuir a dependência da FUNAI, a comunidade possui sua própria maneira de armazenar as sementes. Espécies como milho, arroz, abóbora, melancia feijão de fava são armazenados nas casas de cada família em sacos de fibra e em um local arejado. Como a FUNAI não possui recursos suficientes e devido as dificuldades de acesso as comunidades, as sementes nunca chegam a tempo. No caso da aldeia kranh-ãmpare não existe nenhuma dependência de sementes e a comunidade se encontra em visível estado de segurança alimentar.
Possuem três (3) fornos para a fabricação de farinha e pretendem com o tempo processar cupuaçu, açaí e cacau para venderem nas feiras da região. Processam arroz manualmente, entretanto dizem que o trabalho é muito penoso para as mulheres (que são responsáveis por esse serviço) e a comunidade deseja adquirir uma batedeira de arroz para facilitar os trabalhos.
A aldeia kranh-ãmpare se encontra em uma região de transição de cerrado para a floresta, por isso aproveitam da possibilidade de coletar frutos e plantas destes dois tipos de biomas. Os indígenas costumam coletar açaí, pequi, castanha, óleo de copaíba, cupuaçu, babaçu, andiroba, diversas variedades de coquinhos,  além da envira para confecção de artesanatos, a exemplo de paneiros, cocares, palhas para a cobertura de suas casas, lenha para abastecer as fogueiras familiares, e privilegiam a coleta do mel e da cera de abelha.
As proteínas são consumidas através da caça, da pesca e da criação de animais. Na região se encontram animais como o porco do mato, anta, paca, jabuti, búfalo, cotia, macaco e tatu, todos devidamente consumidos pelas famílias. A pesca é um pouco mais dificultosa, pois o rio se encontra a 20km da comunidade e uma ou duas vezes por semana as famílias vão até o rio pescar trairão, pacu, piranha, piau, piabanha, pintado, etc.
A partir do contato com a sociedade envolvente, os Kayapó passaram a adquirir noções de pecuária e a dominar técnicas de manejo com o gado bovino. Com a introdução das atividades criatórias, novas demandas foram surgindo em decorrência do trato com os animais. Na Aldeia Kranh-ãmpare, há um índio-vaqueiro, que aprendeu as tarefas com outro vaqueiro (“não-índio”) contratado para essa finalidade. Este índio-vaqueiro conta com o auxílio de outros três índios-aprendizes de vaqueiro, que desejam dominar as técnicas de manejo para poder substituí-lo quando for necessário ou tratar do gado de outras aldeias, caso seja convocado pelas lideranças. A comunidade possui algumas cabeças de gado nelore e búfalos, além dos búfalos selvagens espalhados pela terra indígena que são caçados.
Mesmo com toda essa disponibilidade de alimentos possui dependência de alimentos e itens industrializados como pão, café, sal, açúcar, fumo, refrigerante, isqueiro, etc. No geral, os recursos monetários obtidos por meio de programas sociais (bolsa família, salário maternidade, aposentadoria, etc) é direcionado a compra destes produtos.



4 - Referencias

POSEY, Darrell A. Ethnoentomology of the Gorotire Kayapo of Central Brazil. s.l. : Univ. of Georgia, 1979. 177 p. (Dissertação de Mestrado)
---------- Os Kayapó e a natureza. Cência Hoje, Rio de Janeiro,v.2, n.12, p. 34-41, 1984.
---------- . Manejo da floresta secundária, capoeiras, campos e cerrados (Kayapó). In: RIBEIRO, Berta G., coord. Etnobiologia. Petrópolis : Vozes, 1986. p. 173-88. (Suma Etnológica Brasileira, 1).

TURNER, Terence S. Da cosmologia à história: resistência, adaptação e consciência social entre os Kayapó. Cadernos de Campo, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 68-85, 1991.

Área de arroz já colhida


Mulheres na agricultura

Benjadjwyr Pangrá na área de mandioca

Menira a caminho da roça