ALDEIAS

ALDEIA KRANH-APARE
              
             A aldeia Kranh-Apare foi fundada em fevereiro de 2007, desmembrada da aldeia Kubenkrãnkenh.
         O termo kranh-apare significa "a serra que tem escadas", em referência às aberturas da mata nas serras, para que os indígenas possam escalá-las.
     Kranh-Apare está localizada na terra indígena Badjonkore e geograficamente faz parte do município de Cumaru do Norte, porém, em função da grande distância em relação à sede desta cidade, as políticas públicas são acessadas por meio de Redenção e Santana do Araguaia.
     Segundo o último censo da FUNASA, em 2010, Kranh-Apare conta com uma população aproximada de 120 habitantes. Além das atividades tradicionais de subsistência, a população tem como fontes de renda os benefícios sociais do Governo Federal e ainda os empregos gerados nas áreas de educação e saúde.
            João Pangrá é o cacique geral da aldeia.

Outros olhares...

Kranh-Apare remete quem a visita a um outro mundo, seja pela distância ou falta de energia elétrica, seja pela tranqüilidade e modo de vida ainda tão peculiarmente preservados. E como é contraditória: no meio da tarde, entre uma reunião e outra, a esposa do cacique serve a todos batata-doce, ao mesmo tempo em que os guerreiros perguntam se é possível fazerem oficinas de marcenaria para explorarem a madeira abundante de sua terra de forma sustentável. Tudo isso com todas as mulheres da aldeia presentes, opinando nos momentos de discussão e, uma a uma, expondo o que desejam para sua aldeia, seguidas pelo consentimento de todos.
Poucas vezes é possível ver uma tradição tão forte caminhando de mãos dadas com o desejo de autonomia e desenvolvimento humano e social.
No fim da tarde, todos se reúnem na área da aldeia: homens jogando vôlei, mulheres futebol, outros disputam dama, enquanto as crianças se divertem em brincadeiras desconhecidas, mas totalmente compreensíveis quando se vê os infinitos sorrisos.

Em Kranh-Apare o 19 de abril foi muito comemorado: danças ininterruptas por toda a manhã; discurso do chefe dos guerreiros sobre o histórico das populações indígenas no Brasil, e no almoço muito “berarubu” com banana. Ninguém parecia sentir falta de refrigerante.

Enquanto muitos criticam a data ou esta serve apenas para pintar crianças nas escolas, em Kranh-Apare foi apenas mais um momento de socialização, dança e comemoração. Do quê? Da vida, da cultura, não é preciso muito mais que isso.
As fartas roças compensam a falta de rio próximo à aldeia. E as crianças crescem felizes e bem alimentadas pela infinidade de bananas, batatas-doce, abóboras, etc.

À noite todos se reúnem na única casa com energia (até as 21h) para assistir filmes e vídeos de festas Mebengokré/Kayapó. Por mais que não entendam nada do inglês do Jim Carrey, riem tanto ou mais como se tudo fosse perfeitamente compreendido, pois o que importa é a cena, a fala é quase dispensável.



Apesar da distância e da falta de energia, o que já seria suficiente para muitos não pensarem em voltar, Kranh-Apare deixa saudades, seja pela receptividade de todos, dos presentes à batata-doce,
 seja pela sensação de tranqüilidade e vida feliz que todos parecem ter, ou simplesmente pelo sorriso de todas as crianças.

“A serra que tem escadas” também tem uma cultura linda e forte, pessoas felizes e em paz, e a certeza de que muita coisa pode ter mudado, mas a essência de cada um pode ser mantida, apenas é preciso querer.







ALDEIA TUREDJAM



Turedjam está localizada na extremidade da T.I Kayapó, no município de Ourilândia do Norte – PA, a aproximadamente 25 km da sede do mesmo. A comunidade, situada à margem esquerda do Rio Branco e possui cerca de 200 habitantes. Atualmente é a aldeia Mebengokré/Kayapó mais próxima de uma cidade. Seus representantes são os caciques M’ro-ô Kayapó e Mokonti Kayapó.
            Desmembrada da aldeia Kikretum, Turedjam foi fundada em maio de 2010 e, desde então, está em processo de expansão e desenvolvimento, seja de infra-estrutura ou de densidade demográfica.


            Possui energia elétrica, sistema de água, posto de saúde (SESAI) e escola, apesar desta ainda não estar estruturada em um prédio próprio. Sua população vive da agricultura e pesca tradicionais, bem como da coleta de castanha e açaí. As principais fontes de renda são os empregos gerados pelas instituições presentes na aldeia (SESAI e Educação), além dos benefícios sociais e a venda de produtos coletados ou produzidos.

O que os dados não mostram...

            Turedjam é o lugar onde diferentes tempos históricos convivem e se chocam, concomitantemente. Saindo de Ourilândia do Norte, cidade urbanizada e desenvolvida, em pouco mais de 30 minutos você está diante de um mundo novo, diferente, tradicional. Mas este mundo está em plena interação com o mundo moderno, seja pelas barracas que servem de abrigo dentro das casas tradicionais ou pelo telefone celular que funciona normalmente ligado a uma antena.

            Turedjam é cercada por lindas roças de mandioca, milho e outros tubérculos. Sua composição une dois semi-círculos, um que se formou com a fundação da aldeia, outro maior que resultou da sua expansão significativa em pouco mais de um ano.
            Talvez por seu pouco tempo de formação, Turedjam transpira juventude. A tarde é possível ver as crianças brincando alegres e satisfeitas. Os jovens, ao lado, jogam também futebol e vôlei. As mulheres ficam à porta das casas conversando ou simplesmente contemplando a vida da aldeia. São instantes mágicos, que nos remontam a um tempo distante em que a imaginação voa e nos leva a criar mil histórias.


            E os velhos... estão sempre presente nas reuniões, atentos a cada palavra. E quando decidem se pronunciar, o silêncio que os precede anuncia que muitos anos de sabedoria irão encantar a todos, e é sempre assim.
            A veia política de Turedjam também é admirável. Seus líderes são articulados e organizados. Com tão pouco tempo de criação, a aldeia alcançou um nível de infra-estrutura que poucas aldeias Mebengokré/Kayapó possuem. E tudo isso pautado no respeito das relações junto aos órgãos públicos e na força da palavra, um dom Mebengokré.

            Tão próximos de uma realidade que não é a sua, e tão convictos de suas raízes. Assim os habitantes de Turedjam visitam a cidade várias vezes quanto for preciso, mas sempre voltam para suas casas, seu mundo, pois isso é tão natural quanto acordar pela manhã e tomar banho no Rio Branco. Apenas a coragem de enfrentar o novo e a força de uma tradição permitem que não haja rupturas bruscas ou choque de qualquer natureza. Aliás, há apenas um choque, diante daqueles que ainda não compreendem que mudar faz parte da natureza humana, mas não necessariamente significa o fim de uma identidade cultural.
            Turedjam é, acima de tudo, linda. Suas roças viçosas que emolduram o círculo de casas. O cerimonial com que recebem a todos os visitantes, sempre cordial e amistosamente, independente do assunto a se tratar. As crianças, os jovens e os velhos, cada um com uma mensagem de sabedoria própria a ensinar. E a força da renovação, que pulsa na aldeia e a faz crescer sempre, em força, habitantes e desenvolvimento.



ALDEIA KRINY

Kriny faz parte da terra indígena Kayapó e está localizada no município de Bannach - PA, a aproximadamente 100 km de sua sede. Sua população é de 160 pessoas distribuídas em aproximadamente 15 casas.    
            Kriny significa “casa nova, aldeia nova”. Inicialmente, a aldeia estava localizada próximo à cachoeira, distante uns cinco quilômetros da posição atual. Entretanto, como o terreno era muito acidentado, dificultando a agricultura, a comunidade resolveu mudar-se para o local de hoje, mais plano.
            Na aldeia há escola e posto médico (SESAI). Há sistema de abastecimento de água, mas não há energia elétrica.
            Como a grande maioria das aldeias, Kriny tem como fontes de renda os empregos gerados pela educação e saúde, bem como através dos benefícios sociais. Praticam a agricultura, caça e pesca. Também comercializam produtos, especialmente a castanha e outros excedentes agrícolas.
            Kriny é a aldeia de Kanhôt, uma importante liderança indígena conhecida nacionalmente. Após sua morte, seu túmulo foi simbolizado com uma construção especial, e ainda hoje recebe visitas.
            O cacique da aldeia tem uma linda peculiaridade no quintal de sua casa: ele cria quase uma dezena de araras vermelhas, que formam um belo contraste com o restante da paisagem.
            A cachoeira é uma atração a parte. As águas correm por uma planície de pedra e escoam em uma lagoa ao final da corredeira. No verão formam-se pequenas quedas e mini-piscinas. A água segue por um igarapé que circunda a aldeia e é o local mais procurado pelas crianças durante uma tarde quente.
            A aldeia nova tem um vento permanente vindo da mata, que faz de todos mais serenos.




ALDEIA KUBENKRANKENH



Localizada na T.I Kayapó, Kubenkrankenh faz parte do território do município de Ourilândia do Norte – PA. Sua população é de mais de 200 habitantes, distribuídos em aproximadamente 25 casas, formando um grande círculo.
            O acesso a Kubenkrankenh só é possível por via aérea, ou de barco em algumas épocas do ano, quando os rios estão cheios.
            As famílias subsistem da agricultura, pesca, caça e coleta. As fontes de renda são os empregos da educação e saúde, bem como os benefícios sociais e outras fontes advindas de venda de produtos.
       Na aldeia há posto de saúde e escola. Há linha telefônica e rede de abastecimento de água. Energia elétrica há apenas quando se liga o motor que gera água para a aldeia.
           Em Kubenkrankenh há três caciques: Kroatikrô, o cacique velho, e os irmãos Pedro e Manoel.

A aldeia mãe...

            Kubenkrankenh é a verdadeira aldeia mãe dos mebengokré, assim afirma a grande maioria dos indígenas. No processo histórico de divisão dos grupos Kayapó, quando estes migraram para a região de transição entre a floresta e as planícies, o subgrupo Gorotire se subdividiu, dando origema Kubenkrankenh. Assim, os índios mais velhos afirmam que a aldeia foi a primeira do grupo Mebengokré, e só depois, com novas cisões, surgiram as demais.
            Kubenkrankenh significa “terra dos homens que caiu o cabelo”, ou “terra dos homens da cabeça pelada”. Essa denominação vem de um fato curioso: Gorotire e Kubenkrankenh viviam em disputas constantes. Um pajé da aldeia  Gorotire, então, preparou um veneno e deu aos moradores de Kubenkrankenh, visando matar a todos. Houve muitas vítimas desse envenenamento, e aqueles que sobreviveram perderam os cabelos, ficando carecas. Daí o nome da aldeia ter simbolizado o fato.      
            É visível que Kubenkrankenh transpira história. Dos resquícios da aldeia antiga que fica um pouco mais à frente da atual localização, às casas de madeira construídas no tempo das madeireiras, a aldeia é rica de memórias e tradições.
            Talvez a única conseqüência de um passado longo e forte é a abertura de roças cada vez mais longe da sede da aldeia, obrigando as famílias a caminharem quilômetros até suas roças.
            Ao sobrevoar a aldeia na chegada, é possível visualizar duas quedas d’água ao lado da aldeia. A primeira, formada por um paredão de aproximadamente cinco metros de altura por toda a largura do rio, fica a cem metros das casas, onde ainda é possível escutar o barulho da água. No verão, as piscinas que se formam são convidativas a um banho na tarde quente.
            Descendo o rio um pouco mais abaixo, a verdadeira cachoeira: incontáveis metros de beleza ao lado de um paredão de pedra monumental, onde os arco-íris se formam nas gotículas de água que evaporam, tamanha é a força da água. No verão, com um volume menor caindo, é possível se aventurar nas pedras e tomar banho na água que desce. Até para o guia, um senhor idoso que não fala português, que já deve ter visto a cena milhares de vezes, a beleza encanta visivelmente os seus olhos.
            O avião representa literalmente a transição dos mundos. Com sua partida é possível se sentir de fato em um novo tempo histórico, com as mulheres descascando arroz no pilão ou as crianças, sempre encantadoras, brincando pelo centro enorme da aldeia.
            Mas as novidades sempre estão presentes. Na sexta-feira é dia de baile, e as jovens se pintam todas juntas embaixo de uma grande árvore depois do almoço, se preparando para as danças da noite. As crianças também surpreendem, cantando a “dança da caronchinha” entremeando algumas palavras em kayapó.
            Kubenkrankenh é a história viva. É o retrato de vários tempos históricos no presente. Seus velhos trazem o peso de memórias através de sábias palavras, como o cacique Kroatikrô,  ao discursar sobre a importância da educação para as futuras gerações. E suas crianças trazem o novo, um futuro mesclado com uma cultura forte, que se reinventa sem deixar de ter essência.

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